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Menor jornal do mundo teve início em gráfica de Jaime Câmara, em GO

29/08/2016, às 08h08

Versão do ‘Vossa Senhoria’ foi relançado neste mês, em Minas Gerais. Grupo Jaime Câmara guarda como relíquia as edições impressas em 1935

vossa-senhoria1O jornal “Vossa Senhoria”, que foi reconhecido como o menor do mundo pelo “Guinness World Recors”, o livro dos recordes, foi relançado neste mês em Minas Gerais. Mas a importância da publicação para o Grupo Jaime Câmara (GJC) vai além do título mundial, pois a primeira impressão ocorreu em 1935, na cidade de Goiás, na gráfica deu origem à empresa, que atualmente reúne veículos de comunicação como a TV Anhanguera e o jornal “O Popular”.

“Recebemos de um colecionador 24 exemplares do primeiro ano de vida do jornal. Esse material nos mostra a realidade da época, de maneira satírica, em um período de turbulência. Ele foi o gérmen que levou o meu pai, Jaime Câmara, a mais tarde pensar na possibilidade em ter um jornal diário. Tanto que em 1938 nasceu “O Popular'”, contou o presidente do GJC, Jaime Câmara Júnior.

A criação do “Vossa Senhoria” é atribuída ao gráfico e jornalista de Uberlândia (MG) Leônidas Schwindt, mas teve participação direta de Jaime Câmara, que anos mais tarde fundadaria o GJC. As primeiras impressões, quando a publicação ainda tinha formato de 8 centímetros de altura por 6 centímetros de largura, foram feitas na gráfica “Popular”, na época de propriedade de Câmara e seu sócio, Henrique Pinto Vieira.

“O Sr. Jaime idealizou esse jornal e com certeza teve apoio de muitos jornalistas, escritores, que ajudaram a transformar o projeto em realidade. Mas a essência satírica presente nas publicações também partiram dos ideais dele. Ele era jovem, mudancista, e estava em busca de melhorias em uma época de revoluções. Por isso o jornal foi criado como uma brincadeira entre amigos, mas com o objetivo de retratar de forma satírica e com humor as dificuldades que vivenciavam”, afirma Jaime Câmara Júnior.

O tempo de vida da publicação na cidade de Goiás, quando a grafia ainda era Goiaz, foi curto, já que a gráfica foi transferida para Goiânia em 1936. Algum tempo depois, o “Vossa Senhoria” foi relançado em Minas Gerais já pelas mãos de Leônidas Schwindt. Por conta do conteúdo satírico, chegou a ser censurado pelo governo federal em 1955, quando o país esteve sob estado de sítio, mas voltou a circular até 1956.

Após um período de três décadas, o jornal voltou a circular em 1985 em Divinópolis (MG), já editado pela jornalista Dolores Schwindt, filha de Leônidas. Ao descobrir que havia jornais menores que esse em outros países, ela reduziu sucessivamente seu tamanho até o formato de 3,5 X 2,5, o que lhe rendeu lugar no livro dos recordes como o menor jornal do mundo em 23 de março de 2000.

“Soube desse título de menor do mundo do jornal há pouco tempo, quando lembrei que nós guardamos no GJC como relíquia as primeiras publicações do jornal que foram impressas na gráfica ‘Popular’. Aí acho importante mostrar a prova viva de que Jaime Câmara também teve participação nessa história”, destaca o presidente do GJC.

Coleção
A coleção do primeiro ano do “Vossa Senhoria” foi guardada pelo ex-vereador José Monteiro do Espírito Santo, que morreu vítima de vossa-senhoria2afogamento em 1970, em Goiás. O material, composto por 24 exemplares, foi encontrado pelo filho dele, o médico e professor Ary Monteiro do Espírito Santo, anos após sua morte.

“Muitos anos se passaram depois que meu pai morreu e, ao reorganizar algumas coisas que ele tinha guardado, encontrei essa coleção do ‘Vossa Senhoria’. Ele trabalhou como vendedor de sorvete no coreto da praça da cidade de Goiás, e era amigo de Jaime Câmara. Assim ele recebia o jornal e era leitor assíduo, mas me espantei ao ver a coleção do primeiro ano, com uma impressão de tanta qualidade, sem borrões. Achei que era justo entregar ao GJC, pois é um material histórico”, disse Ary.

Segundo ele, as abordagens políticas da publicação eram os atrativos que levaram o pai a guardar as publicações. “Meu pai sempre teve ligação com a política, tanto que ele foi vereador por quatro mandatos em Goiânia, então entendo porque ele gostava do Vossa Senhoria, pois o jornal tinha um ponto satírico voltado a essa questão”.

Logo após encontrar o material, na década de 2000, Ary Monteiro o entregou a Isanulfo Cordeiro, que na época era editor geral do jornal “O Popular”. “O Ary me procurou e disse que tinha encontrado uma relíquia nas coisas do pai dele. Era a coleção do primeiro ano de existência do Vossa Senhoria, que estava em perfeito estado”, lembra.

Segundo Cordeiro, quando essa coleção foi entregue ao grupo, foi levantado o histórico da publicação e aí se descobriu que ele tinha também impressões em Minas Gerais.

“Foi quando descobrimos que o ‘Vossa Senhoria’ continuava a ser impresso naquele estado e, inclusive, já tinha o título de menor jornal do mundo. Fizemos uma reportagem especial sobre ele, pois a publicação foi a primeira feita pelo Sr. Jaime Câmara antes do ‘O Popular’”, afirmou.

História
Jaime Câmara Júnior conta que a história antes da criação do “Vossa Senhoria” começou quando Joaquim Câmara, irmão de Jaime, deixou o estado natal, o Rio Grande do Norte, para trabalhar como agrônomo na região sul do país. Anos depois ele acabou fixando residência em Paracatu (MG), onde constituiu família e passou a ter diversas ligações políticas.

“Foi quando a família mandou o Jaime em busca de notícias do Joaquim, isso já no início da década de 1930, pois a comunicação era muito difícil naquela época.  Acredito que o Jaime tenha se encantado pela região também, onde decidiu ficar. Mas logo depois o Joaquim conseguiu uma indicação para o meu pai em [cidade de] Goiás, onde ele começou a trabalhar em uma loteria. Em seguida, conseguiu uma vaga como revisor gráfico no Diário Oficial do Estado e talvez aí ele tenha descoberto sua vocação”, lembra.

Nessa época, Jaime conheceu o banqueiro Henrique Pinto Viera e iniciou-se uma amizade, seguida de uma sociedade. “O Jaime entrou com o trabalho e o Henrique Vieira Pinto com o dinheiro. Então em 1935 surgiu a gráfica J. Câmara Cia. Ltda, cujo nome fantasia era “Popular”. Ela era pequena, contava com apenas uma impressora, mas ela prestava serviços gráficos para a cidade. E era com o que restava dessas publicações, pois era uma época já pré-guerra, com escassez de produtos, que foram impressas as primeiras edições do ‘Vossa Senhoria’”, conta Jaime Câmara Júnior.

Segundo ele, apesar do jornal estampar na capa que eram impressos 50 mil exemplares por semana, o número era muito menor. “Acho que não chegava a 500, pois era algo mesmo entre amigos, gratuito. Mas fazia sucesso entre os leitores da antiga capital goiana”.

Um ano após a impressão do primeiro exemplar do “Vossa Senhoria”, a gráfica “Popular” se mudou para Goiânia, que já se tornara nova capital do estado. “Foi quando o Joaquim foi convidado por Pedro Ludovico Teixeira para ser secretário em seu governo. Com a chegada do irmão, Jaime comprou a parte de Henrique Pinto na gráfica. Assim,  foi fundada a empresa  J. Câmara Irmãos e Cia. Ltda, ou seja, foi o início do Grupo Jaime Câmara”, relata o presidente do GJC.

Logo depois da chegada na nova capital o “Vossa Senhoria” deixou de ser impresso na gráfica, mas a história continuou em Minas Gerais. “Acredito que o Leônidas tenha dado prosseguimento à ideia sozinho em Minas Gerais. Ficamos muito felizes com essa trajetória do jornal e para mim, pessoalmente, falar como tudo começou é gratificante, pois ver essas impressões do primeiro ano do jornal é como ver um a realização dos ideais do meu pai”, concluiu.

Vossa Senhoria
Desde o seu lançamento, o “Vossa Senhoria” já mostrava que o humor iria marcar sua trajetória.  A manchete da primeira edição, editada no dia 18 de agosto de 1935, era: “A grande festa dos gráficos”. No entanto, chama a atenção a seguinte frase estampada no alto da página: “Vossa Senhoria avisa a seus leitores que vai iniciar no seu próximo número uma campanha terrível contra o sereno dos bailes”.

Ainda na primeira edição, que contou com apenas quatro páginas e também tinha um poema de Leônidas Schwindt, um texto mostra o conflito que existia na época em função da transferência da capital do estado para Goiânia:

“Vossa Senhoria apoiará a mudança, enquanto o Governador estiver com a transferência – Vossa Senhoria combaterá a transferência, quando o Governador estiver contra a mudança”.

Ao longo do primeiro ano de existência, a maioria dos temas abordados no jornal eram voltados para a categoria dos gráficos. No entanto, assuntos como coluna social, o mundo das personalidades da época e as questões políticas dividiam espaços nas pequenas páginas. Tudo sempre em tom satírico.

No número 9, datado de 13 de outubro de 1935, aparece a primeira foto. É a imagem de um menino completamente desconhecido que ilustra um versinho. Também sempre havia espaço para o humor e até para o romantismo, como destacava uma das colunas sociais, sem autoria: “Para você. Você diz que me ama. Nunca vi amor assim. Se seu primo chega, você não olha para mim”.

Relançamento
Milton Nogueira comprou os direitos autorais da versão mineira do “Vossa Senhoria” e é o responsável pelo relançamento do jornal. A nova editora é Leida Reis, que disse  ter ficado supresa pelo convite.

“Fiquei muito grata pelo convite. É um desafio fazer um jornal mensal e com tamanho tão reduzido, porque não podem ser matérias factuais. Pretendo manter a linha crítica combativa e trazer coisas interessante para o jornal. Uma das reportagens da nova edição que lançaremos é justamente sobre o fim do jornal e o que o trouxe de volta agora”, afirmou Leida Reis.

A publicação agora é mensal e a tiragem inicial será de mil exemplares, que deverão ser distribuídos em várias cidades mineiras e também em São Paulo.

Fonte: G1

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