Caiapônia, a terra dos coronéis
Equipe de entrevistadores do Jornal O+Positivo sofreu ameaças durante período que esteve no município para realizar pesquisa. Foi preciso que a polícia interferisse para que conseguíssemos finalizar a coleta de dados para trazer o resultado para você, leitor
30/09/2016, às 14h09
Equipe de entrevistadores do Jornal O+Positivo sofreu ameaças durante período que esteve no município para realizar pesquisa. Foi preciso que a polícia interferisse para que conseguíssemos finalizar a coleta de dados para trazer o resultado para você, leitor
É vergonhoso ver as ações dos “coronéis” que tentam manter-se a qualquer custo no poder em Caiapônia. É déspota todo governo que tenta impedir o acesso a informação, a liberdade de impressa e a livre manifestação. Não há democracia onde os dirigentes políticos tentam perpetuar no poder, pois o caráter popular de um governo está diretamente relacionado a alternância.
O grupo político que governa a centenária Torres do Rio Bonito há 20 anos está se sentindo dono da cidade. Para manter o “curral eleitoral” contam com apoio dos “capangas”, que são encarregados de intimidar a imprensa, os opositores políticos e os eleitores, a fim de garantir o “voto de cabresto”.
No último dia 27, uma equipe do instituto de pesquisa do grupo O+Positivo foi vítima desses foras da lei. Nossos entrevistadores foram perseguidos, agredidos e levados a saída da cidade com a ordem de não voltar. “Se eu ver vocês aqui de novo a coisa não vai ficar boa”, disse um dos meliantes. Isso após a perseguição velada, com filmagens, fotos e fechadas ao veículo.
Eram vários carros e motos com adesivos do mesmo grupo, agindo em sincronismo, enquanto falavam ao telefone, pelo visto recebendo ordem para nos impedir de realizar o trabalho. Inicialmente acionamos a Polícia Militar (PM) que prontamente nos atendeu através do sargento Rone Miller e cabo Jay Eric que fizeram cessar as agressões momentâneas.
Em seguida procuramos a Delegacia de Polícia para registrar a ocorrência e logo percebemos que não estávamos em Torres do Rio Bonito do século passado, quando as milícias trabalhavam sobre o comando dos coronéis, mas na Caiapônia do século XXI. Dr. Marlon Souza Luz, delegado titular da Polícia Civil foi logo avisando. “Aqui não toleramos fora da lei. Se querem impedir que vocês realizem algum trabalho que faça por via legal”.
Foram menos de 20mim para que o primeiro veículo e condutor fosse identificado e detido pelo Grupo de Patrulhamento Tático da Polícia Militar de Goiás (GPT), a pedido do delegado. “Nós garantiremos a segurança de vocês, podem trabalhar despreocupados”, disse o policial oferecendo o número de seu telefone particular, para possível chamado de emergência.
Doutor Marlon Luz é do tipo que fala pouco e não toma partido, mas passa a segurança necessária por suas ações. “Caiapônia não tem dono, nós trabalhamos para manter a ordem e a segurança de todos”.
Um fato inusitado chamou a nossa atenção nos poucos minutos que permanecemos na delegacia. Um “bate pau mor” chegou assustado, procurando por um de seus comparsas que havia sido detido, mas como esse ainda não havia chegado à delegacia, o homem da voz grave saiu batendo de porta em porta de cabeça baixa no corredor onde estávamos. O susto foi tão grande quando levantou os olhos e estava a menos de metro de nós que saiu desajeitado tentando falar ao telefone e por lá não voltou enquanto permanecemos.
Outro ponto que merece ser destacado é o diálogo entre o detido e um terceiro. “Os que receberam para fazer o serviço sujo conseguiram escapar, sobrou para mim que só estava ajudando” confessou o meliante próximo a um dos nossos entrevistadores.
Em uma sociedade democrática ninguém, nenhum grupo, é tão bom que não deva ser substituído. Por mais que tenha contribuído em algum momento da história, renovar é preciso. A perseguição, os desmandos, a violência, a corrupção, a compra de votos são medidas usadas para garantir a consolidação dos mesmos grupos políticos no poder. Acorda Caiapônia, diga não ao “voto de cabresto” e a perpetuação no poder!
– Voto de Cabresto: Os coronéis compravam votos para seus candidatos ou trocavam votos por bens matérias (pares de sapatos, óculos, alimentos, etc). Como o voto era aberto, os coronéis mandavam capangas para os locais de votação, com objetivo de intimidar os eleitores e ganhar votos. As regiões controladas politicamente pelos coronéis eram conhecidas como currais eleitorais.
– Fraude eleitoral: os coronéis costumam alterar votos, sumir com urnas e até mesmo patrocinavam a prática do voto fantasma. Este último consistia na falsificação de documentos para que pessoas pudessem votar várias vezes ou até mesmo utilizar o nome de falecidos nas votações.
João Santana é natural de Caiapônia, historiador, bacharel em direito, marketólogo e editor do Jornal O+Positivo